A ex-ministra e ambientalista participou de painel que discutiu Cidades Sustentáveis e cobrou compromisso da presidente Dilma Roussef em vetar qualquer projeto de alteração do Código Florestal que represente desmatamento e anistia a desmatadores.
A ambientalista Marina Silva, ex-ministra do Meio Ambiente no governo de Luis Inácio Lula da Silva, disse ter esperança de que a presidente Dilma Roussef vete o projeto de lei que altera o atual Código Florestal Brasileiro. Já aprovado no Senado, o projeto está em tramitação na Câmara dos Deputados e deve ser votado ainda neste ano. A manifestação de Marina Silva foi feita durante sua participação no painel Cidades Sustentáveis, nesta quarta-feira à tarde, no Fórum Social Temático, que está sendo realizado em Porto Alegre. "Estou num momento de grande preocupação com a possível aprovação do novo Código Florestal. A presidente Dilma afirmou que vetaria qualquer projeto (de alteração do Código) que representasse aumento do desmatamento e anistia para desmatadores. Se cumprir o compromisso, temos de dar respaldo a ela."
Marina Silva disse que, atualmente, cerca de 50% da população mundial estão nas cidades, "que é um espaço facilitado para a resolução de problemas e não podem ser vistas apenas como um amontoado de pessoas e problemas". Ela defendeu uma sustentabilidade ética e política que seja vista como um ideal de vida. "A crise de valores que vivemos tem relação com as crises ambiental, econômica e social. O atual impasse civilizatório precisa ser resolvido com sentido de urgência e de forma coletiva."
Chamando a atenção para o fato de que 75% dos resíduos são produzidos nas cidades, a ambientalista defendeu a ncessidade das pessoas reduzirem o consumo e de se trabalhar com novas fontes de energia e alternativas de mobilidade urbana que não sejam baseadas estritamente na circulação automóveis. "A política não pode ser apenas um projeto de poder, é necessário desadaptar para não se acomodar", disse a ex-senadora, que recentemente deixou o Partido Verde, ao qual havia se filiado após longo período de militância pelo PT.
Para o teólogo Leonardo Boff, a sustentabilidade deve representar um novo olhar sobre a realidade e mudanças profundas. "Em geral, as empresas se dizem sustentáveis quando precisam enfrentar a ferocidade da concorrência, mas não colaboram para mudar a realidade. Um novo ensaio civilizatório deve incluir a sustentabilidade." Para ele, as resoluções da Organização das Nações Unidas (ONU) são insuficientes, pois são centradas no ser humano. Boff observou que as discussões sobre um novo paradigma não têm nínima repercussão em documentos oficiais da ONU. "Devemos cultivar uma relação respeitosa e não-agressiva com a natureza e tudo o que é vivo. Tudo o que vive merece existir, e tudo o que existe merece viver."
Presidente do Instituto Ethos e integrante do Movimento Nossa São Paulo, Oded Grajew explicou que a ideia que norteia a realização do Fórum Social Temático é a de tentar influenciar as decisões da Rio+20, a ser realizada em junho deste ano. "Os países não têm dado respostas adequadas aos desafios atuais. É preciso uma pressão muito grande da sociedade, na Rio+20 e em outros fóruns, para que governos não repitam fórmulas dos consensos em que se pensa muito mais no processo eleitoral e na chegada ao poder." Grajew apelou para que a Rio+20 gere processos concretos de mudanças, "a fim de evitar que seja apenas um evento de festas". Grajew também destacou a "importância vital" que as questões envolvendo as cidades devem ter na discussão sobre modelos de desenvolvimento. "Hoje, no Brasil, 84% das pessoas moram na cidades."
Ao iniciar seu pronunciamento, Carlos Alberto Libânio Christo, o Frei Betto, fez questão de homenagear "a heroica comunidade de Pinheirinho", se referindo ao episódio em que ocupantes de uma área na cidade de São José dos Campos (SP) foram retirados à força e violência, em ação policial coordenada pelo governador paulista Geraldo Alckmin, a partir de decisão judicial que deteminava a reintegração de posse do terreno aos seus donos. Sobre as expectativas em relação à Rio+20, Frei Betto afirmou estar descrente quanto à capacidade da atual direção da ONU "em abraçar pautas consequentes". Ele defendeu que seja articulada "uma enorme mobilização" para conscientizar a sociedade sobre a importância do evento no Rio. "É preciso que se valorize o papel do Brasil como país anfitrião. Há compromissos e avanços obtidos dos governos, mas também há muita ambiguidade. Temos que transformar a Rio+20 em grande evento de mobilização social, com a presença da sociedade e de movimentos sociais e ambientais."
Frei Betto sugeriu ainda que, nas eleições deste ano para prefeitos e vereadores, os cidadãos elaborem, individual ou coletivamente, uma pauta de compromissos a serem assumidos formalmente pelos candidatos e cobrados daqueles que forem eleitos. "O prefeito (de São Paulo) Gilberto Kassab, por exemplo, assinou uma lista de 232 compromissos, dos quais não cumpriu nem 20% até agora. Mas ele será cobrado por isso."
Fonte: EcoAgência
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