Após uma semana de debates com cerca de 40 mil participantes, o Fórum Social Temático (FST) reuniu movimentos sociais, apresentou propostas para serem discutidas na Rio+20 e mostrou a revolta contra mudanças no código florestal A capital fluminense receberá em 2012 dois mega eventos, a Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, e a Cúpula do Povos. Esta última é a reunião que está sendo organizada por movimentos sociais e será mais extensa, de 15 a 23 de junho, no Aterro do Flamengo. Os movimentos sociais também convocaram na cidade de Porto Alegre os cidadãos a "tomarem as ruas no dia 5 de junho", em um protesto global contra o capitalismo e em defesa da justiça social e ambiental. Celso Woyciechowski, membro do Comitê Organizador do Fórum Social Temático (FST), disse em entrevista à Agência Brasil que as articulações feitas em Porto Alegre servirão de base para uma plataforma de propostas que os movimentos sociais vão apresentar como alternativas ao que será negociado oficialmente pelos governos na conferência do Rio. A base é a crítica à chamada economia verde que, segundo as organizações não governamentais (ONGs), pode acabar apenas repetindo o modelo capitalista sob um rótulo de correção ecológica. Com o tema “Crise Capitalista, Justiça Social e Ambiental”, as questões ambientais e a Rio+20 dividiram espaço durante o FST com debates de temas tradicionais do Fórum Social Mundial, como a crítica ao neoliberalismo, a defesa de causas sindicais e o fortalecimento da educação. No sábado, cerca de 1,5 mil pessoas participaram de uma assembleia que reuniu mais de 100 movimentos sociais e produziu uma carta pedindo a democratização da comunicação, o fim da violência contra as mulheres, o desenvolvimento sustentável e solidário, a reforma agrária, a agricultura familiar, o trabalho decente, a luta pela educação e pela saúde. “Rejeitamos toda e qualquer forma de exploração e discriminação, seja ela no mundo do trabalho, sexista ou racial. Rejeitamos também toda forma de criminalização dos movimentos sociais e a forma como o capitalismo se reinventa na proposta de uma economia verde, achando que apenas pintar de verde um espaço vai mudar a realidade. Entendemos que, para mudar a realidade, não é só pintar de verde, é garantir direitos, liberdade de organização, democracia, proteção social”, disse a coordenadora dos movimentos sociais, Rosane Bertotti. O Dia Nacional de Combate ao Trabalho Escravo foi lembrado em uma sessão especial, na qual a ministra da Secretaria de Direitos Humanos, Maria do Rosário, disse que a aprovação da Proposta de Emenda Constitucional 438/2001, conhecida como PEC do Trabalho Escravo, será a prioridade da articulação da pasta no Congresso Nacional este ano. Segundo a ministra, o aumento de incidência de trabalho escravo em áreas urbanas – geralmente no setor têxtil e na construção civil – e da entrada de imigrantes vindos de países mais pobres são novos desafios para as políticas de enfrentamento da escravidão contemporânea no Brasil. Maria do Rosário aproveitou ainda o FST para criticar a falta de estrutura de apoio às famílias e a violência que marcou a ação da Polícia na desocupação da área de Pinheirinho, em São José dos Campos (SP). A arte também invadiu a capital gaúcha, com os muros da Avenida Mauá, no centro de Porto Alegre, ganhando colorido especial ao longo do FST. Mais de cem artistas independentes e coletivos preencheram mais de 500 metros de parede com desenho, pintura, grafite e cartuns.
Veta Dilma Na quinta-feira (26), no ginásio Gigantinho, a presidente Dilma discursou durante o FST e defendeu a criação de metas de desenvolvimento sustentável e a articulação direta entre medidas ambientais e de combate à pobreza durante a Rio+20. Segundo ela, as incertezas financeiras que pairam sobre o futuro mundial dão um significado especial para a Rio+20. Woyciechowski elogiou a decisão da presidente Dilma de vir ao FST e não ao Fórum Econômico de Davos, o que segundo ele, demonstra o seu empenho em buscar um diálogo que seja alternativo, que não seja um modelo vertebrado a partir de Davos. Porém, as críticas à forma como a presidente vem acompanhando o avanço da bancada ruralista em Brasília na tentativa de atropelar a legislação ambiental brasileira, construída durante décadas e elogiada ao redor do mundo, foram muitas. Durante o discurso de Dilma, foram estendidas faixas com os dizeres “Código Florestal, Vergonha Nacional”. Balões verdes também foram soltos dentro do ginásio por manifestantes, porém, como esperado pela organização, as prometidas vaias contra Dilma foram poucas e abafadas pelo aplauso da maioria. Já durante a Marcha de Abertura do FST, na terça-feira (23), a encenação da morte das florestas pelo Comitê Brasil em Defesa das Florestas e Desenvolvimento Sustentável foi uma das mais divulgadas pela mídia e contou com a participação de centenas de pessoas. Diversos debates tocaram no tema das mudanças no código florestal, com setores muito além de ambientalistas pedindo que Dilma vete as atrocidades cometidas no Congresso e Câmara ao aprovarem anistia de desmatadores e outros pontos polêmicos. João Pedro Stédile, dirigente do MST, denunciou que "atualmente, são apenas três setores - a soja, a pecuária e a cana - que querem avançar sobre o Código Florestal. Querem avançar sobre a biodiversidade para impor a monocultura”. “A Dilma vai ter que decidir se governa para o povo ou para os ruralistas”, comentou Nilo d’Ávila, Coordenador de Políticas Públicas do Greenpeace Brasil, relembrando que a bancada representa apenas dois milhões de vozes e vem há décadas querendo perpetuar o modelo da propriedade sem função social, onde se pode fazer qualquer coisa da porteira para dentro. Todo o cenário político dos últimos anos é criticado pelos presentes no FST. Stédile lembra que há dois anos não há reconhecimento de novas áreas quilombolas. Além disso, diversas Unidades de Conservação estão tendo suas áreas reduzidas, especialmente devido a construção de hidroelétricas na Amazônia e especulação imobiliária na Mata Atlântica. As áreas indígenas também vêm sofrendo todo tipo de abuso, como a morte de vários representantes que denunciam desmatamentos ilegais. A ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva alerta que o código florestal é apenas o começo e que os próximos alvos serão o Sistema Nacional de Unidades de Conservação e o Código de Águas. “Como retrocesso só pode ser evitado pela sociedade, é preciso mobilização e respaldo para a Dilma poder vetar. Estamos fazendo mobilização a favor da Constituição Federal, não contra o governo, e a favor do Brasil”, incita Marina. Autor: Fernanda B. Müller - Fonte: Instituto CarbonoBrasil/Agência Brasil
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